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Mostrando postagens de março, 2012

Pote de Azeitonas

Dona Margarida Oliveira era uma senhora muito simples, que adorava contar histórias. Contava tão bem, que a neta Isadora, pedia à mãe, para dormir na casa da avó pelo menos uma vez por final de semana. Às vezes, Dona Margarida contava histórias conhecidas, às vezes inventava, mas sempre narrava como se a mesma fosse baseada em fatos reais, atuais ou antigos. Só que na última estada de Isadora, a pulga foi parar atrás da orelha da menina, tagarelando como um papagaio: - Mentira, mentira, mentira... Na verdade, a avó trouxe para a menina, misturados no conto, três provérbios que intrigaram Isadora: Sol e chuva, casamento da viúva. Chuva e Sol, acasalamento do caracol. No fim do Arco-íris, um pote de ouro existe. A pequenina recusava-se a acreditar e questionava a avó, que calmamente afirmava, tudo depender do poder da imaginação e da criação de cada pessoa. Mas que não eram mentira, não eram. O fim de semana acabou, e a menina em casa ficava à espera do encontro do sol e da chuva. Eram t

Cadeira Vazia

Sentada no Café da Livraria, ouço o anúncio do final da manhã. O cheiro, antes do pão de queijo e do café com leite, dá lugar ao aroma do arroz recém-nascido, de algo doce como beterraba cozida e talvez, de alguma fritura que exala o odor de óleo sendo queimado. Não gosto de café e nem de leite. Não posso com pão de queijo. Não suporto óleo queimado. Amo beterraba, sua cor forte, viva, sua forma arredondamente deformada, seu gosto doce de terra com açúcar. A manhã está no final. O Café, antes vazio, está quase todo preenchido. Algumas mesas reservadas, algumas mesas com casais, algumas com pequenos grupos de pessoas que parecem trabalhar juntas. Algumas mesas como a minha, solitárias, talvez, com pelo menos uma cadeira ocupada, ou nem isso, porque vejo na minha diagonal esquerda, um semblante de mulher desamparada, mais do que sozinha, desconectada, avoada, em outros mundos. Com o fim da manhã, o calor do meio dia aquece a Livraria. Busco imagens para minha galeria interna e espero. Es

Amor Andarilho

Pintura em Aquarela - Fernanda Matos - Andarilho - abril de 2012 Meu Amor é Andarilho, Caminha por entre as vidas, Sem seguir trilhos, Sem trilhas definidas. Vem e vai “eremitando”: as almas perdidas Vai iluminando, Curando as feridas. Ah meu amor andarilho, Por onde anda você? Por que canto eu esse estribilho? Por que insisto em lhe merecer? Vem e vai o meu desejo De lhe possuir... Há tempos não lhe vejo. Temo lhe desistir. Ah meu amor andarilho, Quanta saudade me sufoca. Sinto-me perder o brilho. Sinto a escuridão que me oca. Vem e vai a minha crença No seu querer, Na sua existência, No nosso bem viver. Ô meu amor andarilho Apazigua a minha alma, Acarinha meu corpo maltrapilho, Traga de volta a minha calma. Vem e vai o meu existir: Ora me sinto nada, Ora penso em me iludir... Receio nunca mais ser amada. Ô meu amor andarilho, Sei que mesmo longe me escuta, Não há distância, nem tempo, nenhum empecilho Para você reconhecer a minha luta. Vem Iluminar a minha face. Vai, Larga esse disfa

OuVindo Beatles

A dor estava suspensa. Brincava de esconde-esconde. Escondida, ficava a cada dia, mais. Enquanto isso, ela brincava de se apaixonar. Como se o tempo pudesse voltar e fazê-la sentir com vinte anos novamente. E novamente sentir a possibilidade do amor. Um amor quase tão puro, quanto o que lhe aconteceu na primeira vez. Quase, se não fosse o jogo de esconde-esconde. Na vida é preciso brincar. Ela mergulhou na brincadeira. Escondeu a dor num lugar que nem ela poderia achar e, correu atrás de se apaixonar: bastava ver aqueles grandes e transparentes olhos azuis, sentir os pelos do braço dele roçando o dela, compartilhar ideias e argumentos, experimentar a intensidade dos beijos dele... Ele apresentava as estrelas do céu para ela, dádiva recebida de seu avô. Ela contava histórias misteriosos no pé do ouvido, dos tempos egípcios. Ele a presenteava com bijuterias diferentes e lindas. Ela tecia joias em letras. E ambos brincavam de amor. Ambos estavam apaixonados. Entregues um para o outro. Um