Fotografar parentes e amigos depois de mortos pode parecer um tanto mórbido nos dias de hoje, no entanto, nem tão pouco, originalmente, era. A intenção sempre esteve relacionada ao processo de vivência do luto. Existem bem menos fotógrafos na atualidade oferecendo esse serviço, que ainda se faz necessário, como no caso de natimortos (inclusive de maneira tão sensível e linda).
A proposta da PsicoFotografia se diferencia da fotografia mortuária, na imagem a ser retratada. Não é a do morto em específico. Mas do que dói em si mesmo, diante da morte. Aceitando o desafio de expressar em imagens conscientemente preparadas para contar, escrever com luz, sombra e formas, a vertigem, a indignação, a injustiça, a saudade, a vontade de morrer, a raiva, o medo, a tristeza, o vazio, a ausência do tempo futuro, a ausência do corpo do falecido... a PsicoFotografia propõe uma dobradura no tempo, na dimensão das memórias e dos sentimentos, na tradução do invisível e do indizível. Como diz o filósofo Confúcio: “Uma imagem vale mais que mil palavras”.
Tudo sentido, pensado, imaginado pode ser transformado em um outro corpo – a imagem fotográfica. Como (re)criação de um diálogo, que poderia ser visto como loucura, porque conversar com um morto faz-se parecer louco, interagir com uma fotografia, coloca numa cena bem suportada, o palpável, durante a produção do imaginado e após a revelação do fotografado. Planejar e executar a PsicoFotografia aterra o que estava viajando na nuvem abstrata da psique ou desenterra o que se calou na despedida (ou na não despedida, como tem sido nos anos de 2020 e 2021 com a Pandemia).
A PsicoFotografia é como a arqueologia do enlutar, procurando, escavando, encontrando, limpando e ressignificado o luto. Pode ser realizada somente como a expressão silenciosa e imagética, mas também pode levar à análise nas sessões de psicoterapia.
Quando estamos em Luto é normal sentirmos Vertigem, Paralisação dos nossos afazeres, loucuras, vontades de não existir, a vontade de voltar a ter esperanças:
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